Autor do gol que selou o acesso à Série B em 2009, atacante revela inferno vivido em Caxias do Sul, antes da consagração e festa
Leandro Oliveira
Guaratinguetá
Dos pés de Edu Pina saiu o gol que selou o mais importante
acesso da história do Guaratinguetá. Restando oito minutos para o fim da
partida entre Guará e Caxias, num abarrotado Centenário, com 24.816 torcedores,
o atacante de 19 anos colocou ponto final no sonho grená e fez os corações
tricolores saltarem de felicidade com a chegada à Série B do Campeonato
Brasileiro. Depois de seis anos do feito, Edu relembra que só foi para a
partida porque Vilson Tadei depositou confiança no seu estilo de jogo.
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Centenário viu Edu Pina marcar e calar 24 mil vozes - Ricardo Wolffenbüttel/ZH Esportes |
Os 2 a 0 do primeiro jogo deram uma certa tranquilidade ao Guaratinguetá. Rocha se encarregou de chamar a responsabilidade para si, marcou duas vezes e decretou o placar da primeira partida entre Guará e Caxias. Mas, outro jogo seria realizado e o caldeirão do estádio Centenário seria o palco de um novo confronto entre tricolores e grenás.
Reserva e com pouco espaço entre os titulares, Edu Pina era um atacante que tinha chegado ao Guará por empréstimo do Vasco da Gama. Mesmo sem marcar um gol sequer na temporada, o jovem de 19 anos era um dos amuletos do técnico Vilson Tadei.
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Tadei comandou o Guará na campanha do acesso Fabio Rubinato/AGF |
Na semana que antecedeu o confronto, o atacante se lesionou. Coube ao treinador fazer sua aposta e encorajar o jovem para o duelo mais importante da história do clube. "Pra mim, foi uma semana muito difícil. Durante a semana, eu tinha me machucado, torcido meu tornozelo e eu não ia viajar. O Vilson Tadei que pediu para que eu viajasse mesmo assim", contou Edu ao Na Gaveta Esportes.
Com o grupo e a caminho de Caxias do Sul, Edu não sabia o que lhe esperava. "Chegando no sul, pegamos um hotel e descobrimos que eles tinham convênio com o clube (Caxias) e botavam algumas coisas na comida", revela. "Foi difícil, chegando lá foi ainda mais complicado, porque nós não podíamos nos alimentar nesse hotel", relatou.
Tradicional clube do Rio Grande do Sul, o Caxias tinha nas mãos a chance de reverter a situação se vencesse o Guará por três gols de diferença. Por isso, os torcedores grenás foram convocados a comparecer em peso ao estádio Centenário. A convocação surtiu efeito. "Quando nós saímos do hotel para o jogo, as ruas estavam lotadas. Quando chegamos no estádio, apedrejaram o ônibus todo. Reconhecemos o campo com uma hora de antecedência, e já tinham 25 mil pessoas nas arquibancadas. Foi uma semana difícil, mas essa data foi um dia marcante nas nossas vidas", declara Edu Pina.
Edu, que era peça incerta para a partida, contou o que Vilson Tadei pensou para furar a zaga rival. "Ele (Vilson) tinha arrumado um esquema para botar o time para frente, caso a gente sofresse um gol na partida. Ele escalou três volantes, porque já tínhamos vencido o primeiro jogo e o empate era nosso. Se a gente tivesse perdendo ele ia mudar a formação e eu seria o homem de frente", relatou.
E foi preciso mexer no time, já que aos 17 do segundo tempo, Leandro Diniz marcou o primeiro gol do Caxias e incendiou o estádio Centenário. Bastava ao Caxias um novo gol para levar a partida para as penalidades. Se marcasse dois, o time grená conquistaria o acesso à Série B.
Edu Pina foi chamado por Vilson Tadei aos 30 minutos. Com a responsabilidade de mudar a história da partida, o atacante entrou na vaga de Cleiton Domingues. O que ninguém sabia era que Pina entrava em campo para, minutos depois, entrar para a história do Guaratinguetá.
Aos 38, Diego Dedoné escapou pela esquerda, roubou da marcação, tabelou e avançou até a linha de fundo. Ele tentou cruzar por cima, mas a bola pegou o caminho inverso e acabou indo rasteira para a área. Edu Pina antecipou a marcação, se jogou do jeito que deu, desviou a bola e silenciou o maior público da Série C daquele ano. "Foi algo que marcou muito a minha história. Foi meu primeiro gol como jogador profissional. Fazer um gol numa decisão foi algo que ficou muito marcado", conta, emocionado ao se lembrar.
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Edu Pina, atacante do Guará em 2009 Divulgação/Guaratinguetá FLTDA |
"Na hora que fui comemorar, os jogadores do Guará pularam em cima de mim e eu acabei me machucando de novo e quase saí. Mas não saí, porque não havia outra substituição para ser feita. Fiquei em campo, mancando. Fui para o jogo somente para fazer o gol. Parece que, pela experiência do Vilson, ele já sabia que isso iria acontecer. Eu, ainda garoto, com 19 para 20 anos, vivi essa sensação e isso foi muito marcante para mim. E tem outro detalhe que me lembro bem. Depois de fazer o gol, a torcida do Caxias deixou as arquibancadas e o jogo terminou com o estádio praticamente vazio", conta Edu Pina, autor do gol que garantiu o acesso do Guaratinguetá.
A história desse 16 de agosto de 2009 terminou com o inédito acesso do Guaratinguetá e o retorno de Edu Pina ao Vasco da Gama. O atacante ficou no clube cruzmaltino por três anos. Depois, jogou por Ituano, Boavista, Duque de Caxias, Volta Redonda e Macaé.
Neste ano, Pina disputou a elite do futebol mineiro pelo URT. Na última semana, o atacante jogou a final da Série C do Campeonato Carioca pelo Artsul. No primeiro jogo da decisão, ele marcou um gol, mas seu time perdeu por 3 a 1 para o Itaboraí. No segundo jogo, predominou a igualdade por 0 a 0.
Aos 26 anos de idade, Edu Pina procura um novo clube para jogar e revela jamais ter se esquecido do time e da cidade de Guaratinguetá. "Até hoje fico muito honrado de poder fazer parte da história do Guará e ter dado muita alegria a essa cidade maravilhosa. Até hoje sinto muita saudade daí", conclui.