16 de jun. de 2014

Aos 23 anos, o ex-volante Sidinei afirma que instabilidade financeira e mercado dominado por empresários o fizeram abandonar o futebol

Profissional há quatro anos, Sidinei preferiu deixar o futebol para se dedicar ao militarismo. O ex-atleta, que vai servir à Aeronáutica, projeta futuro promissor longe dos gramados, mais estudo na nova carreira e cogita até se casar

Leandro Oliveira
Na Gaveta Esportes, Guaratinguetá

Sidinei Augusto Lazarini, ou simplesmente Sidinei. O ex-volante decidiu se aposentar dos gramados aos 23 anos de idade, após a vitória de seu time sobre o Atibaia, pela primeira fase da quarta divisão paulista, para servir à vida militar. Natural de Lorena, o baixinho mora em Itamonte, interior de Minas Gerais, e preferiu abandonar uma de suas paixões, o futebol, para ter estabilidade financeira no futuro. Na curta carreira como jogador profissional, Sidinei estreou pelo Manthiqueira em 2011, e pelo time laranja jogou 46 vezes e marcou 13 gols. Sua outra paixão, a namorada Michelle, acostumada a receber homenagens nas comemorações do atleta ao longo dos últimos quatro anos, apoiou a decisão do volante, que agora já pensa até em se casar.  
Longe do calor de Guaratinguetá, Sidinei mora atualmente na fria Itamonte, no sul de Minas Gerais. O jogador foi um dos principais destaques da curta história de vida do Manthiqueira no futebol profissional. 
O sonho de se tornar um atleta de ponta no país do futebol acabou aos 23 anos. Segundo o ex-jogador, graças a dificuldade de se encaixar no mercado, que é dominado por jogadores empresariados e com influência no cenário do futebol nacional. 
Ex-volante defendeu o Manthiqueira em 46 jogos e marcou 13 gols, ao longo dos quatro anos (foto: Leandro Oliveira)
Sidinei revelou os motivos pelo fim da carreira e o desejo de tentar se destacar nos campos, agora, pela Aeronáutica.

NG: Qual foi o principal motivo pela decisão de parar de jogar?

Sidinei: Primeiro pensamento meu foi a situação que eu estava vivendo no futebol. Foram tantos anos de carreira, uma carreira curta profissionalmente. Desde os 13, joguei no São Caetano e no Manthiqueira. Mas não consegui alcançar a estabilidade que queria. E no futebol, como todos sabem, 23 anos já não é tão novo. Aí eu comecei a estudar, estudei muito, fiz a prova e tive a felicidade de passar. Nessa carreira que eu vou seguir, fiz a prova de taifeiro, me dá estabilidade, o salário é bom. Eu fiquei meio em dúvida, mas decidi optar pela vida militar, graças a estabilidade que vou ter pelo resto da vida.

NG: Acha que o militarismo te abre portas que o futebol não poderia abrir?

Sidinei: Abre portas, talvez a possibilidade de fazer o que eu gosto, que é o futebol, dentro da aeronáutica, e eu vou buscar isso lá dentro. O fato do esporte na área militar ser muito forte, me deixou muito animado. Antes, eu não sabia, mas hoje já sei que até dentro do esporte, outras portas poderão ser abertas.

NG: Qual a maior dificuldade para se tornar um profissional de futebol?

Sidinei: Na minha visão o futebol não depende mais só de si. Não é só a qualidade que faz um grande jogador. Você precisa ter um empresário forte por trás, para gerir o jogador. Então, hoje em dia, não depende só do atleta, mas o extra-campo tem que ser forte. Essa é a maior dificuldade.
Esse foi um dos pontos que me levou a pendurar as chuteiras. Jogando, eu tenho qualidade pra chegar num grande clube. Mas o meu extra-campo, por eu não ter um empresário, uma pessoa forte, pra me dar um empurrãozinho, acho que por isso também não consegui chegar mais longe.

NG: As lesões constantes no ombro, pesaram nessa decisão?

Sidinei: Também. É claro que ninguém escolhe se machucar, mas é como eu disse, eu vinha estudando antes, então a lesão só complementou a minha decisão. Depois que eu passei na prova, fiquei decido.

NG: Houve apoio da sua família pelo seu sonho de ser um jogador de futebol?

Sidinei: Com certeza. Desde os meus seis anos, quando eu comecei no Corujinha do Vale, no Jardim do Vale, em Guará, minha família sempre me estendeu a mão, sempre me ajudou. Em tudo que eu busquei, nunca me deixaram faltar nada. Então, no quesito família, não tenho do que reclamar, só agradecer a todos.
Com a braçadeira de capitão, Sidinei teve em 2013 sua última boa temporada pelo Manthiqueira
(foto: arquivo pessoal)
NG: Qual lembrança fica, após essa curta carreira pelo Manthiqueira?

Sidinei: Eu tenho várias lembranças, mas a maior que fica são a de duas pessoas. Do Raílson, que eu tive o prazer de conhecer no São Caetano, e hoje ele é o capitão do Manthiqueira. Foi através de mim que ele veio pra cá, fazer parte do time. Ele foi a minha maior amizade dentro do futebol. E o outro foi a amizade com o presidente. Foi através dele que eu fui pro São Caetano, e só fez a gente se tornar mais amigo e mais próximo, então fica essa amizade, respeito e carinho.

NG: Como foi o seu contato com o presidente Dado de Oliveira ao longo dos anos em que você defendeu o Manthiqueira?

Sidinei: Ele abriu uma escolinha do São Caetano, na época. Meu irmão mais velho fazia parte, então eu conheci a escolinha por conta do meu irmão. Na época, o presidente gostou de mim. A gente fez um amistoso contra a categoria de base, em São Caetano do Sul, e o diretor de lá gostou de mim. Fiz um teste e passei. Assinei uma procuração junto ao Dado, e, depois que saí de lá, tive uma passagem rápida pelo Palmeiras, mas não houve acerto. Tudo isso através do Dado. Ele criou o Manthiqueira e fez o convite para que eu defendesse o clube. E desde então, não tenho ele como um empresário ou patrão apenas.

NG: O que você acha que os jovens que sonham em se tornar jogadores profissionais de futebol precisam fazer para ter sucesso ou estabilidade, dentro e fora do esporte?

Sidinei: Em primeiro lugar, estudem. No futebol, você não depende só de si próprio. Então estudem. Levem algo a mais, junto do futebol. E não tenha vergonha de não dar certo no esporte, porque a concorrência no futebol é muito grande. Se por acaso não der certo, você, tendo estudado, terá algo mais concreto para sua vida.

NG: Você sempre comemorou seus gols homenageando sua namorada. Agora com a vida mais estável e longe do futebol, vai trocar as comemorações por um pedido de casamento?

Sidinei: Agora complicou. Mas ela tá muito feliz, pois isso vai me dar uma estabilidade grande. Mas, agora não tem como fugir do casamento, agora vamos ter que casar. Aí apertou (risos).



Orkut Favorites More