19 de dez. de 2014

"Resgatar raízes e marcar história": César Santiago e Rocha voltam ao Guará com a missão de reerguer o time

Em campo, tarefa é de Rocha e César Santiago. Nos bastidores, função é de Nenê, atual diretor de futebol do Tricolor do Vale

Leandro Oliveira
Guaratinguetá

Casa cheia, com sete, oito, nove mil torcedores cantando e vibrando nas arquibancadas. Esse poderia ser o roteiro do Guaratinguetá na Série A-1. E foi. Em 2007, 2008 e 2009 a Garça disputou a elite paulista. Porém, a torcida tricolor sempre foi fiel ao time. A média de público expressiva na primeira divisão estadual não foi a única. No início dos anos 2000, o torcedor pintava as arquibancadas do Dario Rodrigues Leite de azul, vermelho e branco. Mas, desde a mudança de sede em 2011 e o retorno em 2012, o clube tenta encontrar uma fórmula de resgatar as raízes de sua terra natal. Neste ano, um grande passo foi dado. A mudança da direção do clube deu ao torcedor a chance de enxergar um novo Guaratinguetá. E foi pensando nas raízes, na rica história do clube, que a direção decidiu apostar em três dos principais ídolos da história da Garça. Dentro de campo, a missão é de Rocha e César Santiago. Nos bastidores, a bola da vez é o craque Nenê, diretor de futebol. Dos atletas, o desejo é de reerguer o time que um dia voou mais alto que os gigantes do estado e recolocar o Guará na primeira divisão. Do eterno 'Pé de Anjo', a vontade é de dar aos torcedores novos motivos para sorrir e voltar a lotar o Ninho da Garça.
César (à esquerda) e Rocha são os dois líderes da Garça, na busca pelas raízes (Leandro Oliveira - Na Gaveta Esportes)
"Eu só aceitei voltar a jogar futebol por ser o Guaratinguetá. Eu poderia ter voltado pra outro time da Série A-2, mas eu só voltaria a jogar profissionalmente se fosse pelo Guará. Era aqui ou o fim (da carreira) mesmo". 
Esse discurso é de um dos jogadores mais vencedores da história do Guaratinguetá. Nascido em Guarulhos, César Santiago viveu grande parte de sua vida em Jacareí. O volante, atualmente com 30 anos, rodou pelo mundo da bola antes de chegar à Garça pela primeira vez. 
César desembarcou no Guaratinguetá em 2009. A missão na época não era fácil: conquistar o acesso da Série C. Mesmo não sendo fácil, a missão foi cumprida ao fim da temporada. Com a disposição dentro de campo e a vontade de escrever seu nome na história do clube, César ganhou respeito dos companheiros e dos torcedores. Com o volante entre os principais atletas do elenco, a Garça voltou a subir de divisão em 2010, saindo da Série A-2 para a primeira divisão estadual. O bom futebol do jogador despertou interesse de times mais conhecidos do cenário nacional e o volante deixou a Garça após a temporada.
Depois de deixar o Guaratinguetá, César Santiago rodou pelo Brasil. Vitória, Grêmio Barueri, Manthiqueira, Comercial, Pelotas e por fim Juventus. O 'Moleque Travesso' foi o último time defendido pelo volante, que pendurou as chuteiras em julho. Mesmo parado, César manteve a forma física com alimentação regrada, exercícios físicos e com o calendário do futebol amador. 

Outro ídolo que retorna ao time é o zagueiro Rocha. Aos 34 anos, o defensor saiu e voltou para o clube inúmeras vezes. Presente no primeiro acesso à Série A-1, em 2006, e no acesso da Série C, em 2009, Rocha sempre foi caracterizado pela raça na defesa e também pelos gols marcados. De fala mansa nos bastidores, o baiano nem parece o xerife que é dentro de campo, quando a Garça joga valendo três pontos.
No clube desde o início do futebol profissional, em 2000, o zagueiro conhece os atalhos do Guaratinguetá como a palma da mão. Experiente e disposto a ajudar o Guará buscar o terceiro acesso à Série A-1, Rocha também pensa no futebol fora das quatro linhas. "É preciso um time com a cara daquele Guaratinguetá antigo, destemido e aguerrido, para atrair o torcedor".

Resgatando as raízes


Graças à identidade e a história escrita com a camisa tricolor, o volante foi um dos primeiros jogadores procurados por Nenê, para a A-2 de 2015. Ex-meia e atual diretor de futebol da Garça, Carlos Gilberto Fantini revelou que um dos objetivos do time para a próxima temporada é resgatar as raízes do clube. "Conversei muito com o Pedro sobre a identidade dos atletas. Passamos e vamos passar sobre os jogadores, o clube e a identificação com a cidade, como é o caso do César, do Rocha, além do Careca e do Fábio, que também já jogaram pelo Guaratinguetá", explicou. 

Repatriar atletas importantes do passado é um dos passos para recuperar a identidade perdida em 2011. Fazer com que esses jogadores mais experientes levem aos novatos a história e o significado do clube, também é fundamental. "É muito importante que eles passem para os jogadores que estão chegando agora no time, a importância que é representar o clube e a cidade. A gente sabe que a torcida tem um amor muito grande pelo time, infelizmente nos últimos anos isso foi se perdendo um pouco, mas nós estamos buscando isso, as raízes. Na nossa comissão técnica temos um nome fundamental, o Cacalo, fundador do clube, e é nossa tarefa passar para os novatos o que significa o Guaratinguetá", concluiu.

Capítulo II: recomeço

Quatro anos se passaram e muito mudou. O estilo de jogo ainda é o mesmo, mas César Santiago conhece mais os atalhos dos campos. Casado desde 2010, o jogador falou sobre seu retorno ao Guaratinguetá como se fosse a reatação de um relacionamento que foi interrompido. "Não tem como eu mensurar a minha volta. É de uma enorme felicidade. Voltar ao clube me faz lembrar só das coisas boas. Decidi voltar por ser o Guará. A gente sabe das dificuldades do futebol hoje em dia e eu aceitei retornar porque o Nenê me procurou e disse que queria contar com jogadores que tivessem identidade com o time e principalmente com a cidade. Vim porque tenho um respaldo muito grande, confio muito nesse cara (Nenê), tive o prazer de jogar com ele em 2009 e eu acredito no que ele diz, sobre trazer de volta o espírito daquele time e fazer do grupo uma família".

O desejo de voltar a jogar pelo clube e ver as arquibancadas do Dario Rodrigues Leite com bom público está vivo, mas César sabe que até a conclusão desse sonho existe muito trabalho a ser feito. Dentro e fora de campo, o jogador deu o tom para que aquele clima vivido por jogadores e torcedores, outrora, seja repetido no ano que vem. "Acredito que todos que estão chegando tem que sentir isso e fazer o possível pra somar junto dessa família, pois nas minhas passagens, a nossa identidade era dentro de casa, com uma torcida que vinha, inflamava o estádio, contagiava o grupo e cobrava, afinal eles têm direito. Isso é bem diferente do que tem acontecido".

Voltar a jogar profissionalmente só foi possível pois César sentia que faltava um capítulo da história sua história no Guará. Para reescrever esse novo episódio, o volante se diz pronto para trazer de volta a imagem de outros tempos e marcar seu nome na história mais uma vez. "Se eu coloco minha imagem na frente de um clube, eu tenho que respeitar. Porque aquilo que fiz no passado, pode ser apagado hoje. Futebol é momento e é preciso aproveitar novas oportunidades, como essa. Então, eu aceitei voltar, não somente por querer trazer essa identidade, mas sim resgatar as raízes e marcar história no clube".

Braço direito


(Leandro Oliveira - Na Gaveta Esportes)
Se o espaço de tempo entre a saída e o retorno de Santiago foi de quatro anos, Rocha não precisou esperar tanto para voltar ao Guará. Depois de defender o time na Série A-2 deste ano, o zagueiro deixou a equipe e foi jogar no Manthiqueira. Cinco meses depois de sua saída, ele está de volta. Com o mesmo desejo do companheiro tricolor, Rocha tem experiência na Série A-2 e sabe das dificuldades que encontrará pelo caminho.

O jogador chegou ao Guaratinguetá pela primeira vez em 2000. Segundo Rocha, a emoção de voltar a vestir a camisa tricolor é a mesma daquele ano. "O sentimento é o mesmo. Tenho o Nenê como um grande irmão e acredito nessa busca pelo verdadeiro Guará. Em todos os anos que trabalhei aqui e tivemos sucesso, sempre foi graças à união do elenco. Então, acredito que, como mais experiente, seja minha função chamar e fechar esse grupo. Fazer desse time uma família, unida e focada no nosso objetivo, que é jogar, vencer e subir".

Com os três jogadores no elenco, o Guará escreveu praticamente toda a sua história. Do bico do pé direito de Nenê saiu o gol do único título da Garça, de Campeã Paulista do Interior, em 2007. César Santiago também já deixou sua marca em um jogo decisivo, na partida que deu ao Guará o acesso à A-1, contra o União São João, em 2010. Rocha foi fundamental para ajudar a Garça a conquistar o acesso para a Série B do Brasileirão, marcando dois gols contra o Caxias no primeiro jogo das quartas de final, na vitória por 2 a 0 em casa.





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